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FOTOGRAFIAS DE MIGUEL CHIKAOKA

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Teatro Waldemar Henrique

Entranhas abertas para a cena de Belém

Em dezembro de 1979, Belém ganhava o Teatro Experimental do Pará Waldemar Henrique, fruto de uma árdua luta da categoria teatral por um espaço que servisse efetivamente aos cerca de quarenta grupos atuantes naquele momento. Abrigou o que houve de mais inovador na cena da cidade, e graças à sua estrutura, aberta a infinitas possibilidades de uso, propiciou exercícios de liberdade relacionados não apenas à linguagem, mas também à ousadia das encenações. Isso, em um momento em que as patas da censura ainda se faziam sentir, sobretudo nas montagens do Grupo Cena Aberta, criado em 1976 por Luís Otávio Barata, Zélia Amador de Deus e Margaret Refkalefsky. 

Atuante até 1991, o Cena Aberta esteve à frente das principais reivindicações políticas da classe e marcou de forma definitiva o teatro da cidade, em virtude da atitude provocadora do encenador e cenógrafo Luís Otávio Barata. Foram, também, os principais responsáveis por consolidar o Anfiteatro da Praça da República como palco ao ar livre, onde se podia assistir a ensaios e apresentações quase todas as noites, em meados da década de setenta, e que depois continuou sendo intensamente ocupado por outros grupos.

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A década de 1980 chegava com a força criadora de artistas inquietos, vindos de diferentes caminhos formativos. A Escola de Teatro e Dança da UFPA, criada em 1962, foi um deles, mas a prática nos grupos certamente favoreceu as maiores trocas de experiências e espetáculos memoráveis. Gruta, Experiência, EPA – Estúdio de Pesquisas Artísticas, Maromba, Vivência, Palha, Cuíra são alguns dos coletivos que traduziram de muitas maneiras o ser amazônida, assentando a criação teatral num território de férteis abordagens.

Nas mostras organizadas pela FESAT – Federação de Atores, Autores e Técnicos de Teatro e realizadas no Teatro Waldemar Henrique, esses e outros grupos se encontravam, debatiam, questionavam, divergiam, identificavam pontos comuns, mas, principalmente, fortaleciam uma rede de afetos determinante para as dimensões da formação individual e fazer coletivo, bem como para compor o cenário cultural da cidade.

Nos anos noventa, o movimento de teatro de grupo foi adensado por novas propostas e pesquisas, mantendo-se presente nas escolas, universidades, praças, museus, porões, e sobretudo em casas que passaram a abrigar os sonhos de artistas aos quais o poder público sistematicamente virou as costas. Já não havia, então, a força agregadora da FESAT, mas o desejo de resistir e levar ao público as criações permaneceria vivo, a despeito de todas as dificuldades.

É esse desejo de gente tão apaixonada pelo teatro que pulsa nas imagens feitas por Miguel Chikaoka ao longo das décadas de oitenta e noventa, extremamente significativas da cena paraense. Desejo este, expresso através dos espetáculos, mas também dos ensaios, leituras dramáticas, debates e participações em manifestações políticas, e alimentado de profícuos encontros. A exposição O Teatro Paraense 80/90 traz um pouco desse vasto universo testemunhado por Miguel Chikaoka, e será, sem dúvida, referência para gerações do presente e vindouras.

 

VALÉRIA ANDRADE

curadora convidada

Projeto contemplado com o Edital Multilinguagens - Lei Aldir Blanc Pará

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