Evna,

 Mesmo distante, sinto você ao meu lado. Recebi sua carta e decidi também olhar para meu interior. Talvez seja um método para me conectar com suas memórias, agora atravessadas pela descontinuidade de tempos e de espaços.

Você me disse que suas imagens falam sobre o que passou; talvez sobre o que você sonhou. Elas deflagram experimentos sobre reações, cores, equipamentos e erros de câmeras analógicas. Eu lhe digo, com elas pude perceber reações que habitam em mim igualmente.

Será que podemos imaginar que estas imagens são como rios? Se assim forem, parafraseio Marguerite Duras, pois suas imagens carregam tudo o que vem a eles, os rios, raízes, florestas, restos de incêndios, animais mortos, outros vivos, ilhas flutuantes, tudo é levado pela sensibilidade das tempestades para o Atlântico. Tudo é levado pela vertiginosa correnteza interna, estática no movimento, suspensão na superfície da força das águas.

Com suas imagens, Evna, entendo que os erros constituem algo de minha humanidade, meus rios de sangue. Estes erros, quiçá nossos, são possibilidades discretas de ascender a um frágil céu.

 

John Fletcher